quarta-feira, 2 de abril de 2008

A PRÉ-HISTÓRIA

A PRÉ-HISTÓRIA
A pré-história consiste em um longo período, cerca de 98 % do tempo de existência humana. A pesquisa relativa a esta fase do homem sobre a Terra tem avançado através da Arqueologia, no entanto, por tratar-se de um período longingüo, são enormes as dificuldades para obter conhecimento concernente a este.
A Arqueologia, ao contrário da Paleontologia, que estuda somente os fósseis animais e vegetais, procura conhecer as “coisas velhas” do homem. A tentativa é amealhar resíduos das atividades humana, digamos, constituir um “porta-treco” com um fim específico, conhecer a origem do homem e a este dar a oportunidade de se conhecer. Então, o que a Arqueologia busca encontrar é a cultura material extraviada no tempo e no espaço, elementos materiais que venham a ser “porta- voz” de uma época específica, no caso aqui, da pré-história.
No século XIX Charles Darwin inaugura sua teoria das espécies, na qual afirmava que o homem havia evoluído de seres inferiores a si e que o homem era fruto desta evolução, bem como de uma seleção natural, a qual selecionou o resultado desta mesma evolução como uma espécie exitosa. Porém, o que ocorreu neste processo? O que contribuiu para que o homem chegasse com êxito ao estágio evolutivo que se conhece atualmente?
Por tratar-se de um longo período, a pré-história comporta em si drásticas mudanças. Essas mudanças são de várias ordens, não apenas biológicas, mas também meteorológicas e geológicas. As glaciações, congelamento do planeta a partir dos pólos em direção aos trópicos, afetaram o clima na Terra e por conseqüência a vida sobre ela. A própria Terra movimentava-se em sua entranhas, o seu subterrâneo, a procura de uma melhor conformação de sua calotas provocava variações geológicas, que são catalogadas e caracterizadas pela Geologia em determinados períodos.
Há mais ou menos 4.000.000 de anos surge o Australopitecus, ancestral do homem na linhagem evolutiva. Esse primata surge no período geológico denominado Pleistoceno inferior. Esse tipo de primata então retira-se das florestas tropicais para adaptar-se à vida nas savanas. Ele já se diferenciava dos demais primatas pela utilização das mãos em outras funções que não a locomotora, pois o Austalopitecus adquire postura bípede. Com o tempo sua coluna dorsal se adapta a este comportamento, antes de tudo, cultural, mesmo antes deste ser o padrão biológico; o que possibilita a esse ancestral do homem percorrer longas distâncias na Terra.
Embora saiba-se hoje que o homem não descende de macacos ou ainda de chimpanzés, é aceito que tanto o homem quanto estes possuem um ancestral comum. Também é de conhecimento a mínima margem de percentual genético que separa o homem do chimpanzé, compartilhando este de 98% da carga genética do homem. Portanto, são apenas 2% que faz toda a diferença. Essa constatação permite afirmar que o homem é muito mais do que um animal.
Por mais insólito que pareça, na Índia aconteceu de meninas perdidas ainda bebês serem amamentadas e criadas por lobas, longe de qualquer contato humano. Ao serem encontradas anos depois possuíam comportamento de mais um elemento da matilha, uivando e mostrando os dentes em posição de ataque e de humanas tinham apenas a carga genética, inexistindo qualquer coisa que demonstrasse que elas tinham significação de mundo. Faltava a elas aquilo que desde priscas eras fez com que o Australopitecus se erguessem nas savanas – a cultura. A cultura faz com que o homem entre em contato com um mundo particular, o mundo dos símbolos, sendo este que dá sentido a existência humana. Esse sentido, ou melhor, essa significação, fica explicitada com o aparecimento da linguagem.
Não se sabe ao certo em que momento a linguagem aparece no cenário, no entanto a estimativa mais aceita entre os pesquisadores é em torno de 2.000.000 de anos. Isso se deve ao fato que, neste período do Paleolítico inferior, surge o Homo habilis . Nos sítios arqueológicos em que este é encontrado percebe-se que pela primeira vez, dentro da escala evolutiva, o uso de instrumentos fabricados. É neste sentido que este ancestral humano pode ser denominado um hominídeo . Pois longe de meramente pertencer a uma classe zoológica, o Homo habilis pressupõe inteligência, memória, comunicação efetiva através da linguagem, isto porque torna-se inconcebível o acúmulo de conhecimento apresentado por este representante evolutivo na elaboração de instrumentos e o repasse deste conhecimento a futuras gerações sem que houvesse uma linguagem corrente.
Entretanto, o uso de instrumentos por si só não caracteriza um ser pensante, pois outros primatas também o fazem. O chimpanzé, por exemplo, utiliza-se de instrumentalização. Então, o que diferencia os hominídeos de seus parentes evolutivos? Novamente a cultura entra como elemento determinante. É a cultura, ou melhor, a capacidade de adquirir cultura que distingui os hominídeos dos demais animais. Ao incorporar hábitos culturais à sua existência, o homem modificou até mesmo sua natureza. Um exemplo disto já foi apresentado neste texto. Antes mesmo de possuir um corpo adaptado ao bipedismo o Australopitecus já se erguia nas savanas sobre suas pernas, deixando então os membros superiores livres para a apreensão de outras atividades que não a locomoção.
Esse fato, ou seja, a aquisição de cultura e sua contribuição para a modificação da estrutura biológica dos hominídeos caracteriza um padrão dialético. A cultura se faria presente graças à evolução biológica ou esta se deu somente frente à cultura? Uma reflexão mais aprofundada mostra a dependência de uma sobre a outra, que o homem sem cultura seria apenas mais um ente na natureza, mais um animal sem maiores distinções sobre os demais. Porém, sem possuir a carga genética que detinha, seria impossível aos homonídeos chegarem ao Homo sapiens sapiens.
Uma prova disto seria a capacidade craniana. Pesquisas mostram que a presença de carne vermelha na alimentação dos Austalopitecus e dos demais ascendentes do homem seria determinante para o aumento significativo que se deu da capacidade craniana. Se no Australopitecus essa capacidade era de 450 à 650 cm3 , no transcorrer de milhões de anos de evolução, já no Homo sapiens sapiens essa capacidade chegou a 1.700 cm3 . Percebe-se que naturalmente o homem não é nem foi em nenhum momento dotado de equipamento biológico compatível com a alimentação de carnes. Sua mandíbula e dentição são frágeis, no entanto, através da caça, atividade essencialmente cultural, bem como social, os hominídeos começam a utilizar-se da carne vermelha e por meio desta atividade cultural, como já explanado, modificam sua própria biologia.
Como já foi dito, a caça, atividade cultural por excelência e por conseqüência social, foi de suma importância antropológica. A caça determina o início da noção de família. Enquanto ao hominídeo do sexo masculino caberia o exercício da caça, a representante do sexo feminino caberia o exercício dos cuidados maternos. De uma maneira sumária pode-se afirmar que esta divisão de tarefas seria determinante para a dominação do homem sobre a mulher no contexto social.
Na seqüência evolutiva constata-se a presença do Homo erectus, onde a postura ereta torna-se mais aperfeiçoada do que em seus antecessores evolutivos. É com este que o homem aprende a dominar o fogo e com isso permite com que salve-se da extinção frente às mudanças climáticas apresentadas no período. Devido à glaciação que este antepassado do homem enfrentou, não fosse o fogo, as possibilidades de não extinção seriam ínfimas. O fogo possibilitou a adaptação do homem frente às mudanças climáticas.
O Homo sapiens neanderthalensis é uma espécime de hominídeo encontrado nas escavações arqueológicas, por sinal, o primeiro encontrado foi em 1856.Entretanto, pesquisas comprovam que , embora essa espécime seja um produto evolutivo hominídeo e que apareceu a cerca de 100.000 anos, não é definitivamente ancestral do homem moderno. Possuem entre si antepassados comuns, porém o Homem de Neanderthal é pertencente a um ramo paralelo ao Homo sapiens. O Homo sapiens sapiens, como conhecemos hoje surge por volta de 70.000 anos.
O argumento maior, a premissa mais cara deste texto é constituída do seguinte axioma: O homem é definitivamente um ser cultural. Definir a pré-história em períodos tecnológicos, Paleolítico, Mesolítico e Neolítico é fazer referência à cultura. A fabricação de instrumentos utilizando-se da natureza e a transformando a fim de adaptá-la às suas necessidades, faz do homem um ser único. A postura ereta, a utilização das mãos e a procura de uma visão mais aguçada, são transformações biológicas que possuíram antecedentes culturais, pois antes mesmo do corpo estar adaptado à determinada atividade, o homem já buscava extrapolar seus limites. Faltava a ele agora era “fazer” História!

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